O jornalista norte-americano, Doug Fine, chamou atenção com
o lançamento de seu novo livro “Too High to Fail – Cannabis and the New Green
Economic Revolution” (em tradução livre, Chapado Demais para Fracassar -
Maconha e a Nova Revolução Econômica Verde, Editora Penguim/Gotham).
Para escrever o livro, ele passou um ano no condado de
Mendocino, ao norte da Califórnia, onde o plantio para fins medicinais era
permitido mediante pagamento de taxa. Cada produtor podia plantar no máximo 99
mudas, e ao fim de um ano a maconha foi responsável por 80% da economia local,
um montante de US$ 8 bilhões.
O governo americano considera a maconha uma droga
ilegal,viciante e sem valor algum para tratamentos médicos, por isso lidera uma
guerra contra os 17 estados que a liberaram para uso medicinal.
Defendendo sua tese, Fine concedeu uma ótima entrevista ao
portal IG, no qual mostrou todo o poderio econômico da planta Cannabis Sativa.
Vale muito a pena conferir esta entrevista! Boa leitura!!!
A maconha realmente pode ser um salto para a recuperação
da economia norte-americana? Como?
Doug FIne: Esse já é a colheita número um dos Estados
Unidos, praticamente isenta de impostos. As pessoas gostam da planta (100
milhões de americanos, incluindo os últimos três presidentes), inclusive para
propósitos industriais (como óleo nutricional). Somente no condado da
Califórnia que pesquisei para o livro, a planta gera US$ 6 bilhões por ano para
os agricultores. São números grandes. Se pensarmos na história da proibição do
álcool nos EUA, antes da Lei Seca o álcool já chegou a gerar cerca de 70% da
receita federal.
Muitos produtores de maconha não são formalmente
registrados. Você acredita que eles oficializariam suas produções se o cultivo
para fins medicinais fosse permitido pelo governo?
Fine: Quando a proibição do álcool terminou, os
contrabandistas (destiladores do mercado negro) desapareceram. Então, sim,
acredito que a indústria vai, assim, tornar-se uma indústria.
Não é possível que grandes empresas nacionais de cerveja
ou tabaco monopolizem o mercado da maconha?
Fine: Talvez, mas os EUA também possui um mercado
multibilionário de cerveja artesanal. Acredito que o mesmo modelo lucrativo irá
se aplicar aos produtores de maconha. Mas também são possíveis versões
industriais do cultivo, que talvez sejam ainda mais lucrativas, principalmente
como fonte de etanol.
Com a legalização, a oferta provavelmente será maior. Não
é possível que os preços caiam e o cultivo deixe de ser tão rentável?
Fine: Sim, alguns temem a queda de preço para a maconha
medicinal. Mas se a região do Triângulo da Esmeralda (condados de Mendocino,
Humboldt e Trinity, todos na Califórnia) se estabelecerem como os melhores
fornecedores da planta, com o maior crescimento, a história mostra que terão
lucro de fato. Basta olhar para o condado ao lado, Napa é mundialmente famosa
por seus vinhos.
Alguns pesquisadores dizem que apenas 5% do cultivo de
maconha é utilizado para fins medicinais. Estimular o plantio, não é
indiretamente estimular o uso ilegal da droga?
Fine: A maconha é muito menos maléfica à saúde do que o
álcool, o tabaco ou alguns medicamentos de prescrição. Geralmente, adultos
saudáveis a utilizam com responsabilidade para manutenção da saúde,
sociabilidade e espiritualidade, insônia e letargia ocasionais, ou outros
motivos. Isso deveria ser visto pela sociedade da mesma forma do que tomar um
copo de vinho após um longo dia de trabalho.
Você é favorável apenas à legalização do cultivo para
fins medicinais ou para uso civil também?
Fine: Acredito que a maconha deveria ser inteiramente
removida da lei federal de substâncias controladas. Assim, os estados poderiam
individualmente regular seu uso, como o álcool para adultos responsáveis. Os
benefícios dessa medida serão em torno de US$ 35 bilhões por ano.
Quais seriam os benefícios da legalização para o país?
Fine: Bilhões seriam arrecadados todo ano através dos impostos.
Também seria o fim da mais longa guerra de nossa nação, que é em grande parte
uma guerra civil. A colheita número um do país sairia do mundo da ilegalidade e
haveria declínio do crime organizado ligado à venda de entorpecentes. A
população teria acesso a uma planta fantástica com atributos medicinais
largamente reconhecidos. E também ganharíamos independência do petróleo através
dos biocombustíveis.
Qual é o tamanho da produção de maconha nos EUA?
Fine: Ninguém sabe o quão grande o plantio é. Porém,
estima-se que seja o maior de nossa nação. Há uma citação interessante que
inclui no livro, segundo a avaliação do cultivo doméstico de maconha feita pelo
Departamento de Justiça Nacional dos EUA em 2009: “A quantidade de maconha
disponível para distribuição nos EUA é desconhecida. Uma estimativa precisa
sobre essa quantidade é inviável. E apesar dos esforços para erradicar a
cultura, sua disponibilidade permanece relativamente elevada, com rompimento
limitado na oferta ou preço”.
A dívida pública norte-americana foi recentemente
estimada em pelo menos US$ 16 trilhões. Você acredita que a receita proveniente
dos impostos sobre a produção da maconha teria impacto significativo sobre esse
valor?
Fine: Alguns economistas dizem que em dez anos o impacto
seria de US$ 1 trilhão. Isso corresponde de 6 a 7% da dívida pública, nada mal
para uma antiga planta.
Você é muito bem-humorado em entrevistas. O título do seu
livro e seu website também são divertidos. Você não teme não ser levado a sério?
Fine: Eu quero fazer as pessoas rirem. Acredito que sou
provedor de uma espécie de escrita não ficcional que chamo de “Jornalismo
Investigativo Comédia”. Se você não pode rir, tem problemas. Eu também gosto de
representar, então encaro as entrevistas que dou como uma audição. Para o
próximo épico de Spielberg, talvez.
Você fuma maconha?
Fine: Eu já usei e acredito que é uma boa planta. Como
qualquer outra coisa, de aspirina a álcool e produtos farmacêuticos sob
prescrição, pode ser usada com abuso. Mas, minha opinião sobre ela é espiritual.
Sou um seguidor da Bíblia, e ela não é vaga sobre isso. Está no Genesis,
capítulo um, versículo 29: “vocês terão todas as plantas, sementes e ervas para
usar”. Não está escrito “a não ser que um dia Richard Nixon decida que ele não
gosta de uma delas”.
Você acredita que a maconha tem o potencial de aumentar a
criatividade? Já escreveu quando estava “chapado”?
Fine: Para mim, a alquimia que permite a criatividade tem
origem divina. E eu agradeço todos os dias por isso. Como muito do universo,
para alcançá-la é preciso unir a vida temporal com a energia divina.
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