Walter Casagrande Júnior foi um grande jogador de futebol,
que arrancou muitos sorrisos durante a sua carreira. Categórico, Casão se
destacava em campo e era um matador nato. Hoje, em tratamento devido a sua
dependência do abuso de drogas, Casagrande fala com propriedade sobre o tema,
além de defender uma revisão do controle antidoping, quando algum atleta é pego
por uso de maconha, cocaína ou crack.
Casagrande, que já foi viciado em heroína e cocaína, não
acredita na atual propaganda contra as drogas e prefere uma abordagem bem mais
real do tema. "As pessoas usam drogas por conta própria, ninguém é
influenciado ao vício. É uma escolha individual. Se tiver a conscientização
sobre a dependência química, ela poderá avaliar melhor sua escolha. Mas eu
evito essas campanhas com o tema 'Diga Não às Drogas'. Como vou falar só isso
para o cara se eu mesmo usei por um longo tempo. Prefiro falar sobre as
consequências e alertar para o tratamento".
Ao contrário de depoimentos de ex-dependentes, a palestra de
Casagrande não se baseia no apelo emocional das tragédias que viveu sob a
influência do vício. Evita tocar no tem de religião e conta a derrota interna
que sofreu para as drogas enquanto as pessoas o viam na mídia erguendo taças
nos campos de futebol. Adverte que há tratamento e se define como um
"dependente químico em recuperação". O ex-jogador comparece
semanalmente a sessões de terapia e consulta regularmente seu psiquiatra.
O comentarista acredita que sua estadia na clínica o ajudou
a compreender a vida sob um prisma diferente, mas sem abrir mão do que gosta. O
ex-jogador afirma que tem um permanente "vazio" dentro de si após
largar os gramados, mas hoje aprendeu como conviver com o sentimento. Não
somente Casagrande, mas muitos atletas sentem um profundo vazio quando se
aposentam. A mudança drástica de vida, a glamorização que não mais acontece por
parte da mídia, acabam por levar muitos à depressão.
A ideia, de acordo com Casagrande, é reavaliar os conceitos
e manter a autoestima, sentimento ausente no dependente químico. "Continuo
gostando de rock. Meus ídolos ainda são os mesmos, Janis Joplin, Jimi Hendrix,
Jim Morrison e The Doors. Mas agora avalio a competência musical deles e não
desejo ter a vida deles, não quero imitá-los. Eles viveram uma vida ruim e eu
tive a vida ruim deles por um bom tempo. Não quero mais isso para mim",
diz ele.
Em entrevista coletiva em Maringá, Walter Casagrande
criticou a suspensão de dois anos aplicada pelo Superior Tribunal de Justiça
Desportiva (STJD) ao goleiro Rodolfo do Atlético-PR. No inicio de agosto,
Rodolfo admitiu ser dependente de cocaína e aceitou a internação voluntária em
uma clínica de recuperação, após ser pego em exames antidoping.
Casagrande defende que a Confederação Brasileira de Futebol
(CBF) precisa repensar a situação de jogadores que fazem uso de drogas. "O
problema da droga hoje é social. Ninguém usa crack, maconha ou cocaína para
aumentar o rendimento. Então o jogador ser suspenso dois anos não está ajudando
em nada.
Acho que devia uma ajuda psicológica, um tratamento e não ser suspenso
da profissão", disse ele. Para o comentarista, o uso de drogas "não
tem nada a ver com doping".
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